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domingo, 31 de julho de 2011

Por que é tão difícil ser diferente?

Depois de quase quinze dias meio de cama por uma gripe que evoluiu para sinusite, saí de casa para comer uma carne de porco feita na banha com mandioca. Adoro carne de porco. Foi uma novela. Veio carne de vaca. Pedimos para trocar. Mas, o pior foi a luta do guaraná com limão e gelo. Não sei qual o preconceito que os garçons têm com guaraná com limão. Também gostaria muito de saber quem foi que inventou que guaraná tem que ser com laranja. Sei lá, deve ter sido um tipo de invenção dessas: se a coca-cola é com limão, vamos inventar uma coisa qualquer parecida para o guaraná. Por quê? Não consigo descobrir outra razão. O bom de colocar limão é o azedinho que dá ao refrigerante, seja ele coca, guaraná ou sei lá o quê. Laranja não é azeda (por mais azeda que esteja). Dá gosto de laranja. Parece meio que uma fanta improvisada. O que sei é que virou regra. Todo mundo é obrigado a tomar guaraná com laranja e gelo. Em TODO bar, lanchonete ou restaurante que eu vou, preciso explicar algumas vezes para o garçom entender. Peço para ele anotar. “Olha, sei que todo mundo pede com laranja, mas eu gosto com limão, igual coca-cola. Você pode anotar, por favor?”. E, mesmo assim, lá vem a bandeja com um lindo copo com gelo e a rodela alaranjada. Eu peço para trocar. Ontem, o garçom já tinha voltando tantas vezes para reanotar o pedido (acho que ter pedido o limão fez com que ele perdesse o rumo), que deixei para lá e tive que me contentar com a laranja. Engoli o refrigerante, mas continuo sem engolir a história. E a pergunta continua: por que é tão difícil ser diferente?

domingo, 10 de julho de 2011

Doce Vida

Toda vez (toda vez = frequentemente) que eu derrubo alguma vasilha devidamente preenchida com alimento perecível ou não na cozinha, faço o meu auto-consolo: “Ainda bem que não é açúcar”. Já derrubei de tudo. Café no chão e no teto da cozinha, depois de calcular mal o espaço entre a bancada e a pia e soltar a garrafa antes de chegar em pedra firme. Leite na prateleira superior da geladeira, observando sem ação enquanto ele pingava nos potinhos e panelas, escorrendo calmamente de uma prateleira para a outra a fim de se espalhar o mais democraticamente possível. Pirex com feijão, panela de sopa e, claro, o pão que cai com a parte da manteiga virada para o chão. Mas sempre, sempre penso no quanto sou sortuda, porque pior, muito pior seria se o conteúdo em questão fosse açúcar.

Hoje, a minha sorte deve ter ido dar uma volta no Sanduba’s com meu filho pré-adolescente. Preparei um mingau para o Antônio e ficou tão apetitoso que resolvi fazer um para mim. Peguei a lata de açúcar na dispensa e levei para perto do fogão. Queria uma colherzinha só. Nada muito gritante. Nenhum exagero. Nenhum mega projeto dispendioso. O plano era certo e curto: preparar o mingau no intervalo de um programa sobre aeroportos e tomá-lo em frente à televisão. Mas, eu devia saber, não existem planos certos. A lata escapou da minha mão e caiu de boca entre a ardósia e a Pedra São Tomé. Esparramou açúcar pelo fogão, por dentro dele, embaixo e atrás. Açúcar pelas prateleiras debaixo da pia e pelas frestas do piso. Açúcar por todo lugar.

O provável seria eu entrar em pânico. Ter um ataque neurótico. Não fiz nada disso (e tive grande orgulho de mim). Pelo contrário, entrei em um estranho estado de calmaria. Respirei – e comecei a lenta tarefa de limpar o açúcar derramado. Primeiro recolhi com uma colher grande o que estava por cima e, portanto, em perfeitas condições para reaproveitamento. Depois, com uma bandejinha de isopor retirei o excesso. Tirei as panelas e coloquei em cima da pia. Lavei cada uma delas. Sequei. Varri o açúcar da prateleira, do chão e de trás do fogão (depois de arrastá-lo e machucar um dedo no encaixe da tampa de vidro). Com uma colher de sopa, juntei os restinhos que a pá de lixo não alcançou. Voltei o fogão e as panelas para seus postos. Guardei a vassoura e a pá. Joguei o açúcar sujo fora. Lavei as mãos, terminei meu mingau. Tomei. Deitei - e rezei para as formigas terminarem o meu serviço, levando o resto do açúcar que eu não consegui limpar. Elas sempre aparecem e conto bravamente que não vão me deixar na mão.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Ele gosta mais dele que de mim?

Eu já esperava. Chegamos em Três Pontas e tive que voltar correndo para São Paulo. Uma dessas reuniões de última hora. Pela primeira vez em 9 meses e 16 dias, fiquei duas noites longe do Antônio. (E do Daniel também, mas ele é um homem quase feito e nem sei se ele percebeu a minha ausência). Sim, foi difícil. A primeira noite foi ótima. Dormi igual uma pedra, finalmente. No dia seguinte, passei todo o tempo cuidando para não fazer barulho, porque achava que o Antônio estava dormindo. Esquecia que ele não estava ali. “Não está, como assim?”. Ficou um vazio. Ver os brinquedinhos dele, os cachorrinhos na rua, que ele tanto gosta. Como filho pequeno faz falta!

A segunda noite foi trágica. Meu peito encheu tanto de leite que foram necessários dois banhos em uma madrugada gelada para esvazia-lo um pouco. Acordei desesperada para voltar ao meu petitico. Chegamos à noite. Ele estava dormindo no quarto da minha mãe. Tinha acabado de tomar uma mamadeira imensa. Mas acordou com o som da minha voz (para o meu orgulho) e dei mamá de novo (grande egoísmo, eu sei, que, aliás, empanturrou o menino). Depois do mamá, acordou todo serelepe – e quis saber só do pai (para a minha frustração). Tipo assim: barriga cheia, pé na areia. Será que ele gosta mais dele que de mim?

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Incompatibilidade de gênero

Vou aproveitar esse espaço para contar as aventuras de uma amiga minha que, aqui, vou chamar de Nikki (melhor ter a identidade dela ultra-preservada). Acho que vamos nos divertir bastante com ela. Portanto, ao episódio 1 de "Minha amiga Nikki".

Minha amiga Niki estava feliz da vida com o namorado novo. Quase-namorado. Era o terceiro encontro, um dia frio, e resolveram almoçar juntos, no intervalo dos trabalhos de cada um (fato sinalizador, segundo ela, de amadurecimento da relação). Como dois pombinhos, caminhavam de mãos dadas, entrelaçadas. Dois prédios antes de chegarem ao restaurante viram o passeio interditado. Era uma obra na antiga farmácia de manipulação. Ela e o quase-namorado disseram, ao mesmo tempo: "Nossa". E, então:

Ela: Que coisa grande parece que é isso.
Ele: Violento!
Ela: Não precisava ocupar tanto espaço.
Ele: Que isso, ocupa o espaço certo.
Ela: Será que vai ficar muito tempo aí?
Ele: Do caralho.
Ela: Do quê?
Ele: A máquina é do caralho.
Ela: Não acho um carrinho de mão uma máquina. Tá mais pra ferramenta.
Ele: Isso é uma ofensa.
Ela: ???
Ele: Não pode chamar um carrão desse de carrinho.

Foi então que a Nikki viu o o Porshe estacionado junto à caçamba de entulho. Depois do almoço, achou por bem dar fim ao pré-relacionamento. "Incompatibilidade de gênero", ela disse. Eu expliquei que homem é assim mesmo, que se ela quisesse namorar alguem com os mesmos interesses que os dela, deveria ser com ela mesma ou, no mínimo, outra mulher. "Você está sendo meio radical" eu disse. Ela bateu o pé. "De jeito nenhum". Bom, depois não entende porque está sozinha.

sábado, 2 de julho de 2011

Eu não uso óculos escuros

Tentei. Mas, definitivamente, não consigo. Não uso óculos escuros. Me disseram: quem tem olho claro, tem mais sensibildade à luz e, portanto, maior dificuldade de enxergar sob o sol. Até concordo com a teoria, mas não me encaixo nela. A cor dos meus olhos é azul claro e, nem por promessa, consigo usar óculos escuros. Fato que, aliás, me causou alguns problemas na adolescência. Sempre achei charmoso as lentes pretas, marrons, fatais. Escolhia de acordo com a roupa, tudo combinando, uma belezura. E, na hora H, desistia. Foi então que resolvi parte do problema. Passei a colocar os óculos para segurar o cabelo, igual travessinha. Esse artifício estético durou só até completar dezessete anos (pelo bem da minha dignidade).

Hoje, na estrada, paramos para comprar uns óculus quaisquer, porque o F. (que tem olho castanho) não conseguia enxergar direito para dirigir. Experimentei. Podia ser que as coisas tivessem mudado. Que nada. Continuei me sentindo um ser estranho. Fico tonta. Perco o equilíbrio. Não consigo sequer subir o degrau do meio fio. Escondida atrás das lentes escuras, perco a noção do meu espaço no mundo. Será que acontece só comigo? Não sei. O que sei é que passei o resto da viagem enjoada. A culpa, óbvio, foi dos óculos. O F. não acreditou. Disse que era enjoamento puro.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Férias?

Planejamos há um tempo: “Vamos passar o mês em Três Pontas”. Planejamento utópico, claro, porque existem as reuniões, os compromissos, as entrevistas e outros assuntos profissionais que não se transferem de cidade só porque você decidiu acompanhar seu filho pré-adolescente nas férias de julho. Eu sei, as férias são dele, não nossas. Mas como trabalhamos grande parte do tempo pelo computador e telefone, achamos que poderíamos ficar boa parte do mês em Três Pontas, vindo a São Paulo só o necessário. O objetivo é nobre: lá, o Antônio pode conhecer de perto outros bichos além dos cachorrinhos do bairro (que encontramos toda manhã, quando vamos na padaria). Galinha, vaca, cabrito, cavalo, pato, ganso e até o tucano de estimação do meu pai. Sem falar na convivência com a família. Acho muito bom ele saber que a vida não se resume aos 82 m2 do nosso espremido apartamento, que nem porta de entrada tem mais (porque aproveitamos o cantinho para entulhar objetos com alto grau de dificuldade de serem guardados, como cadeirão, carinho, amplificador de guitarra, vilão e colchão. Se chega visita, o porteiro já sabe, pede para subir pelo elevador de trás).

O problema é que, como sempre, a realidade é mais complicada que o plano. Estou aqui, enrolada com as mil malas que preciso fazer e sofrendo com o cansaço que me espera. Em São Paulo temos uma rotina estabelecida. Tenho uma pessoa que me ajuda com a casa e outra, à tarde, que vem ficar com o Antônio para eu poder trabalhar em paz por exatas – e curtas - quatro horas. Lá, na calmaria do interior, não sei o que me espera. Ou melhor, sei, sim: jornada quíntupla. Cafés para tomar, almoços sem fim para saborear, conversas para jogar fora (e outras para recolher), camas para arrumar, roupas para lavar, criança para pajear, trabalhos para fazer e uma receita quase infalível para enlouquecer. Tenho certeza: vou voltar dessas pseudo-férias exausta. Os meninos, por sua vez, voltarão recarregados. O Daniel, com suas aventuras pelas roças e praças. O Antônio, bom, com tudo o que uma cidade pequena, e agrícola, tem a oferecer. No final das contas, exausta ou superexausta, vou me sentir feliz. Pelo menos, vou me apegar a essa possibilidade. A gente sempre precisa de algo para acreditar, não é?

PS: Obrigada, Thatty Dantas, pela dica do post.