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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Lentes de contato para o amor

Estava deitada, na sala, quando o F. chegou, colocou a mão na minha cintura e disse:

- Que curva, hein?

Sinceramente? Estou mais para anel rodoviário.
O amor é cego (e o casamento, às vezes, precisa ser também).

Estressada, eu?

Eu me preparava para dormir quando fui ao banheiro escovar os dentes e pensei: “ainda preciso tomar banho”. Separei o pijama e busquei a toalha na área de serviço. Foi então que veio a dúvida: “Parece que eu estou tão limpinha, será que eu já tomei banho?”. Estava pensando nisso quando o F., meu marido, me encontrou parada, de pé, em frente à porta do banheiro. “O que foi?”, perguntou. Fiquei dividida entre ser sincera e agüentar a gozação ou ser não-sincera e ficar em paz. Como queria muito esclarecer a questão e não conseguia buscar nenhuma luz na minha memória recente, assumi o risco e escolhi a primeira alternativa. “Você viu se eu tomei banho hoje?”. Ele ficou me olhando daquele jeito, tipo “dã, em que mundo você vive?” ou “não acredito que me casei com você”. Por fim, disse: “Maria, você tomou um banho demorado agora há pouco, olha só o seu cabelo”. Passei a mão e ainda estava molhado.

Fiquei aliviada, porque estava com muito sono e uma preguiça descomunal de entrar no chuveiro. Mas, fiquei preocupada. Como eu podia não me lembrar de uma coisa tão simples, que havia acontecido há menos de uma hora e envolvia meu corpo inteiro? Será que eram os primeiros sintomas de uma doença neurológica irreversível? Não queria admitir, mas acho que estou estressada. Antes de definir o que fazer sobre a questão, preparei uma lista de ações a observar nos próximos dias, para identificar outros sinais do meu possível grau de “estressamento”. Atenção: se você cometeu alguma das ocorrências abaixo nas últimas semanas, talvez esteja como eu.

- Guardar a embalagem de toddy no microondas ou na geladeira.
- Deixar a chave na fechadura, do lado de fora da porta.
- Fazer uma ligação telefônica e, quando alguém atender, esquecer para onde ou quem telefonou.
- Ter crises avulsas de irritação.
- Chorar compulsivamente porque a atendente de telemarketing da operadora de telefonia celular respondeu “vamos estar resolvendo a sua solicitação em até cinco dias úteis, senhora” quando você queria tudo resolvido naquele minuto.
- Trocar o almoço pela cochinha do homenzinho da esquina que atende pelo nome de “Jesus me chama” e não ver nenhum problema nisso.
- Responder a qualquer pergunta com: “Hãhã” – e sofrer as conseqüências por ter respondido “sim” ao convite para o concerto de tabla indiana na quinta-feira à noite justamente quando você queria era ver A Grande Família ou o episódio inédito de House.